quarta-feira, 3 de outubro de 2012

COLUNA


Uma pena, Beth...

Um dos programas que mais me dá prazer em assistir é o Saia Justa. Quatro mulheres, cada uma a sua maneira, expõem suas opiniões sobre os assuntos ali debatidos. No caso da reprise que assisti, Mônica Waldvogel, Maitê Proença, Beth Lago e Márcia Tiburi, eram as protagonistas do papo informal e extremamente interessante. Quatro mulheres bem diferentes, justamente por isso o diálogo se faz tão intenso e delicioso.

Mas o que me trouxe a escrever foi a Beth Lago. Sou fascinada pelo humor ácido e sarcástico dela. Adoro suas opiniões curtas e grossas e suas declarações autênticas. No entanto, uma de suas falas me intrigou. Não, na verdade, não fiquei intrigada, fiquei indignada mesmo!

Em um papo sobre o porquê ainda as mulheres desejam, sonham e se enlouquecem por casamento já que conquistaram direitos e blá blá blá, o que culminava, na minha opinião, com a perpetuação da ideia de que homem é pra sustentar a mulher, Márcia Tiburi com sua magistral filosofia, mas criando um abismo entre o lado profissional e o lado pessoal, disse que a mulher não precisava mais casar, pois hoje as portas do mercado profissional estavam abertas à ela, ela poderia ser top model, médica, estilista, professora... entre outras profissões citadas pela filósofa.

O que me deixou pê da vida, foi que Beth Lago, ao escutar a profissão PROFESSORA, como uma das justificativas pra ela não casar e ter independência, disse: professora, não.
E ponto final. Não argumentou. Márcia Tiburi continuou com seus argumentos fantásticos, mas minha cabeça ficou na frase professora, não... E eu perguntou: Professora, não, por quê???

Por que professora, não...
... se foi por uma professora que Beth conseguiu juntar letrinhas para que pudesse ler o suficiente pra estar sempre à frente do seu tempo?
... se foi por meio de uma professora que fez com que Beth pudesse explanar tão bem sobre os mais diversos acontecimentos ao nosso redor no programa Saia Justa?
... se foi por uma professora que fez, implicitamente, com que Beth pudesse ter acesso ao mundo da moda mostrando-lhe que a interpretação dos fatos é condição sine qua non para que estejamos no topo?
... se foi por uma professora que Beth conseguiu ler a Vogue e a Elle sejam elas em qual idioma estiverem?
... se foi por uma professora que Beth inicialmente teve a noção de organização da língua, para que depois pudesse falar qualquer uma delas tão bem?

Realmente, nós professores, não lidamos com glamour, estrelismos e nem com o mundo onírico e fascinante da mídia, mas temos a faca e o queijo nas mãos para que tudo isso seja lido realmente como se deve: com criticidade, racionalidade, livre de ingenuidades e com perspicácia suficiente para que os sujeitos que passarem por nós possam interpretar discursos e, assim, formar opiniões sobre tudo e todos.

Uma pena, Beth, que teu comentário não foi: professor, sim. Apenas por agradecimento aos teus anos de educação formal, que com certeza corroboraram para que sejas brilhante, com raras exceções.



Rita Germano
Professora, leitora, escritora e amadora. Roteirista - não praticante - da sua vida. Mas, para o mundo acadêmico, é mestranda em Educação pelo PPGE- FURG, especialista em Leitura e Produção Textual pela UFPel, licenciada em Letras  pela Furg. Coordenadora do Polo de Apoio Presencial de EaD de São José do Norte e Coordenadora de Projetos na Secretaria Municipal de Educação e Cultura de São José do Norte.

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